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Marketeiros da melhor qualidade II


Mais um desses vendedores ambulantes, que passeiam em minha memória, era um bem peculiar, que negociava com uma gama de produtos bastante diversificada, e que mudava conforme a aceitação dos mesmos. Era um homem alto, moreno e de cabelo crespo, arrumado num topete à la Zé Bonitinho - Bigode estilo mexicano, coberto por corrente e pulseiras de ouro, uma indumentária naquele estilo apreciado por Hilton Lopes, Bolinha e Agostinho Carrara, neste gênero. Seu vocabulário rico, sempre empregando palavras pouco usuais para aqueles que circulavam por aquelas bandas, ele as empregava por sua sonoridade, não pelo seu significado, isso pouco importava. O interessante era se destacar como homem de alto conhecimento científico, para vender a sua farmacologia.


Tecnologicamente à frente do seu tempo, sempre fazia uso de uma caixa de som amplificada, alimentada por bateria de carro. Usava microfone pendurado no pescoço, no estilo Silvio Santos, para que as mãos ficassem livres, porque, além de apresentar o produto, vendia e passava troco. Hoje, percebo que era um homem inteligente, tinha uma estratégia para se destacar dos demais e vender o seu produto. Tudo nele era único: a postura, a voz, a abordagem e a desenvoltura, além de saber valorizar o produto, embalando-o num papel bonito – parecia um ator que domina todas as técnicas do teatro.

Um de seus produtos mais famosos era o precursor do Viagra, uma “garrafada” que, segundo ele, era composta de ervas medicinais, que ele vendia com a seguinte contraindicação: "Preste atenção! Esse remédio não pode ser usado por homem que carrega outro nas costas! Porque, ao invés de carregar um, vai carregar dois, vai carregar três, vai carregar quatro! Homem que carrega o outro nas costas não pode tomar." A narrativa era um apelo de grande porte. Imagina... com a garrafada, conseguir carregar 4 homens nas costas... a tentação era grande. E assim, ninguém resistia. Homens e até mulheres nem queriam discutir muito.

Diante da perspectiva, compravam, discretamente, a garrafada. Tudo aquilo era muito interessante de observar. E o apelo que ele usava era bom demais! Ele, simplesmente, fingia ter medo do (bom) resultado que a garrafada traria, demonstrava certo receio de que “funcionasse” demais, o que instigava os prováveis compradores – doidos por um up grade na performance.

Manuel Vasconcelos é Dir. Administrativo

da Conceito Comunicação Integrada.


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